CONTO #2: Passaporte para Geena
Senhor,
Perdão por não conseguir amá-lo, como deveria, mas essa nunca foi a minha intenção.
Eu acreditava que o pecado iria me definhar até a morte, caso eu aceitasse viver nele. Foram dias de nebulosidade e escuridão, enquanto o uivo agudo da minha mente suja ansiava por uma noite de prazer.
Você era a minha única alternativa naquele momento.
Sua mão pesada sobre a minha cabeça traria alívio para os espasmos da minha carne, suas palavras graciosas acalmariam a corrente de dor que corria nas minhas veias e o silêncio religioso me levaria para a luz.
Eu estava enganada, senhor.
Alguns nasceram para o amor, mas outros nasceram para a luxúria. A ilusão de um lar cheio de paz não me agrada, pelo contrário, meu corpo rejeita. Eu sempre desejei o fogo. Fogo que o senhor não entenderia e eu prefiro que não tente entender.
Não me procure.
No poço profundo da profusão, onde todos desviam, eu quero me jogar e sentir o ardor de intensas labaredas acesas dentro do meu corpo nu.
Eu desejo gritar. Gritar até a minha garganta arranhar e arder, enquanto meus lábios secos e rachados tremem sem conseguir praguejar qualquer palavra suja. Palavras que eu prefiro que o senhor não escute, nada que eu disser será para desrespeitá-lo, mas apenas para satisfazer a minha carne que se encharca de um desejo voraz. Desejo este que o senhor nunca conseguiria saciar, mesmo que tentasse.
Foram dias de lutas tentando me libertar daquilo que já está enraizado dentro de mim, me debatendo contra os sentimentos, ou a falta deles, dentro de mim mesma.
Perdão, senhor. Mas a tua bondade não foi suficiente para me fazer caminhar contigo.
Os chicotes que açoitaram em minhas costas quando desejei os puros foi totalmente em vão. Eu sentia meu corpo esquentar a cada chibatada e a cada ecoada no quarto escuro, meus lábios sussurravam gemidos de dor e prazer.
Eu procurei a luz a toa, agora eu sei. Ela nunca vai brilhar sobre a cabeça de uma pecadora, como eu.
Eu não sou feliz contigo, senhor.
Perdoa-me.
Eu me sinto inteiramente capaz de utilizar do meu livre arbítrio para escolher o meu próprio caminho e deixo-te a par de todas as minhas decisões. Saiba que eu quero, e sempre quis, viver completamente no pecado da luxúria até a minha alma perecer no calor das trevas. Eu sei que esse não é um pedido comum para o senhor, por isso te isento dessa culpa e te peço novamente perdão por nunca ter te amado, eu vou seguir o caminho para o qual nasci.
O lago de fogo me aguarda com um colar feito de cordas grossas.
Atenciosamente,
Irmã Teresa.
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